Quem passa
pelos grandes centros empresariais erguidos mais recentemente em São Paulo, nos
arredores das Avenidas Faria Lima, Juscelino Kubitschek, das Nações Unidas,
Luiz Carlos Berrini e vizinhança pode reparar um novo estilo que se consolida unanimemente
nos prédios comerciais: o revestimento de vidros espelhados. Conversei com alguns arquitetos que me
explicaram que o vidro é realmente um dos materiais mais modernos que podem ser
usados na construção de prédios comerciais, uma vez que permite a entrada de praticamente
toda a luz natural e, ao mesmo tempo, segura uma boa quantidade de calor (quem
já trabalhou em um prédio desses, em dias de verão, talvez questione essa
última estatística). Ao mesmo tempo as
formas côncavas, retas e convexas dos projetos, ao serem revestidos por vidros,
trazem uma fluidez à paisagem em contraponto ao impacto que os imponentes
prédios causam à cena urbana.
Mas, além
dos quesitos técnicos e estéticos, vejo um propósito bem interessante no uso do
vidro.
Durante o
dia, ao proporcionar a “vista” às pessoas que trabalham nos interiores dos prédios,
sutilmente se é oferecido uma sensação de liberdade para aqueles que escolheram
ou aceitaram trabalhar, no mínimo, 8 horas por dia dentro destes espaços. Como um pássaro dentro de uma gaiola se
conforma com a visão de que tem das árvores e continua a cantar mesmo com o
pouco espaço que lhe foi dado à voar, a possibilidade de ver a avenida do alto,
um por-do-sol, de verificar um barulho ocorrido na rua ou o trânsito que se
acumula ao longe, traz uma sensação de alívio às pessoas que ficam por horas
dentro dos prédios, enquanto a vida acontece fora. Algo como um antitérmico, que não vai curar a
virose, mas vai aliviar os sintomas da febre e dores no corpo enquanto a virose
estiver agindo, os modernos prédios de vidro souberam trazer alívio à realidade
empresarial atual dos grandes centros urbanos.
E de noite? Ah,
de noite é incrível a utilidade do vidro: Eles revelam à todos aqueles que estiverem
passando na rua, que as pessoas que ali estão trabalham pesado. É comum passar
pelas avenidas tarde da noite e ver diversas luzes de escritórios acesas, com
funcionários trabalhando, alguns em reuniões, outros em suas mesas. Aos poucos, começamos a nos acostumar com as
luzes acessas e com as pessoas dentro dos prédios às 22:00hs, 23:00hs ou 00:00hs.
É tão comum que passamos sutilmente a aceitar convocações de trabalhos
extraordinários, com prazos de entrega recordes. Coisa dos tempos modernos. A
doação total das pessoas para sua vida profissional, em detrimento de todos os
outros aspectos, familiar, cultural, lazer, esportivo ou do mero ócio para
contemplar a lua cheia.
Sábios foram
os arquitetos que perceberam a compatibilidade do vidro com o life style do
empresariado moderno, devem estar
aproveitando a maré para nadar de braçada no mercado.