quarta-feira, 5 de agosto de 2015

os prédios de vidro

Quem passa pelos grandes centros empresariais erguidos mais recentemente em São Paulo, nos arredores das Avenidas Faria Lima, Juscelino Kubitschek, das Nações Unidas, Luiz Carlos Berrini e vizinhança pode reparar um novo estilo que se consolida unanimemente nos prédios comerciais: o revestimento de vidros espelhados.   Conversei com alguns arquitetos que me explicaram que o vidro é realmente um dos materiais mais modernos que podem ser usados na construção de prédios comerciais, uma vez que permite a entrada de praticamente toda a luz natural e, ao mesmo tempo, segura uma boa quantidade de calor (quem já trabalhou em um prédio desses, em dias de verão, talvez questione essa última estatística).   Ao mesmo tempo as formas côncavas, retas e convexas dos projetos, ao serem revestidos por vidros, trazem uma fluidez à paisagem em contraponto ao impacto que os imponentes prédios causam à cena urbana.

Mas, além dos quesitos técnicos e estéticos, vejo um propósito bem interessante no uso do vidro.

Durante o dia, ao proporcionar a “vista” às pessoas que trabalham nos interiores dos prédios, sutilmente se é oferecido uma sensação de liberdade para aqueles que escolheram ou aceitaram trabalhar, no mínimo, 8 horas por dia dentro destes espaços.    Como um pássaro dentro de uma gaiola se conforma com a visão de que tem das árvores e continua a cantar mesmo com o pouco espaço que lhe foi dado à voar, a possibilidade de ver a avenida do alto, um por-do-sol, de verificar um barulho ocorrido na rua ou o trânsito que se acumula ao longe, traz uma sensação de alívio às pessoas que ficam por horas dentro dos prédios, enquanto a vida acontece fora.  Algo como um antitérmico, que não vai curar a virose, mas vai aliviar os sintomas da febre e dores no corpo enquanto a virose estiver agindo, os modernos prédios de vidro souberam trazer alívio à realidade empresarial atual dos grandes centros urbanos.

E de noite? Ah, de noite é incrível a utilidade do vidro: Eles revelam à todos aqueles que estiverem passando na rua, que as pessoas que ali estão trabalham pesado. É comum passar pelas avenidas tarde da noite e ver diversas luzes de escritórios acesas, com funcionários trabalhando, alguns em reuniões, outros em suas mesas.   Aos poucos, começamos a nos acostumar com as luzes acessas e com as pessoas dentro dos prédios às 22:00hs, 23:00hs ou 00:00hs. É tão comum que passamos sutilmente a aceitar convocações de trabalhos extraordinários, com prazos de entrega recordes. Coisa dos tempos modernos. A doação total das pessoas para sua vida profissional, em detrimento de todos os outros aspectos, familiar, cultural, lazer, esportivo ou do mero ócio para contemplar a lua cheia.  

Sábios foram os arquitetos que perceberam a compatibilidade do vidro com o life style do empresariado moderno,  devem estar aproveitando a maré para nadar de braçada no mercado.