Era uma quarta à tarde, por volta das 15:00hs ou algo assim.
Peguei minha bicicleta e resolvi dar uma volta no parque aproveitando a fase atual
da minha vida que comporta a disponibilidade de tempo.
Parei no farol de um destes cruzamentos entre duas grandes avenidas da cidade e logo em seguida um cara de bicicleta também parou, ao meu
lado, esperando o farol ficar verde para poder ultrapassar a avenida e chegar
ao parque.
Nos olhamos e apenas com o olhar fizemos um cumprimento. Não
um cumprimento sem sentido, de mera educação ou formalidade, mas um cumprimento
de quem entende o que significa aquela atitude: Liberdade! Ir andar de bicicleta no parque, no meio da tarde de uma quarta-feira. É uma opção. Melhor dizendo, para
mim, uma verdadeira conquista.
Já vi esse olhar em outras situações: entre grávidas,
entre mães com bebês recém-nascidos – sejam em seus carrinhos, no colo ou
amamentando, entre babás, entre motoboys que param nos faróis enlouquecidos da
cidade. É uma fração de segundo representado por um olhar de identificação, algo
sutil como “não estou sozinho nessa minha decisão, em que pese a opinião
contrária da sociedade e/ou as dificuldades do caminho”. É um olhar de empatia,
que alimenta aquela decisão e que não requer mais nada. Às vezes vem, até,
acompanhado de um sorriso, de um suspiro ou de uma careta. Mas não mais que
isso.
Não à toa não trocamos sequer uma palavra, não era o caso. O
Farol abriu e cada um saiu para o seu lado, para a sua vida.