quarta-feira, 24 de junho de 2015

Era uma quarta à tarde, por volta das 15:00hs ou algo assim. Peguei minha bicicleta e resolvi dar uma volta no parque aproveitando a fase atual da minha vida que comporta a disponibilidade de tempo.

Parei no farol de um destes cruzamentos entre duas grandes avenidas da cidade e logo em seguida um cara de bicicleta também parou, ao meu lado, esperando o farol ficar verde para poder ultrapassar a avenida e chegar ao parque.

Nos olhamos e apenas com o olhar fizemos um cumprimento. Não um cumprimento sem sentido, de mera educação ou formalidade, mas um cumprimento de quem entende o que significa aquela atitude: Liberdade! Ir andar de bicicleta no parque, no meio da tarde de uma quarta-feira. É uma opção. Melhor dizendo, para mim, uma verdadeira conquista.

Já vi esse olhar em outras situações: entre grávidas, entre mães com bebês recém-nascidos – sejam em seus carrinhos, no colo ou amamentando, entre babás, entre motoboys que param nos faróis enlouquecidos da cidade. É uma fração de segundo representado por um olhar de identificação, algo sutil como “não estou sozinho nessa minha decisão, em que pese a opinião contrária da sociedade e/ou as dificuldades do caminho”. É um olhar de empatia, que alimenta aquela decisão e que não requer mais nada. Às vezes vem, até, acompanhado de um sorriso, de um suspiro ou de uma careta. Mas não mais que isso.


Não à toa não trocamos sequer uma palavra, não era o caso. O Farol abriu e cada um saiu para o seu lado, para a sua vida.   

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Tempo

Tempo para conversar
Tempo para olhar, observar
Tempo para amar

Tempo para sorrir
Tempo para dormir e, também, para assistir o que nos ensina constantemente a natureza
Tempo para ouvir

Tempo para trabalhar
Tempo para brincar e viajar
Tempo para contemplar

Que bom estar na Bahia,
Que me fez lembrar que para se viver êh preciso tempo

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Dizer adeus.
É difícil dizer adeus.       Apegamo-nos às coisas, aos sentimentos, aos sentidos, às pessoas, aos hábitos e condicionamentos, às relações e às emoções que todas essas coisas despertam em nós.

Consigo entender melhor, hoje, aqueles que ao invés de dizerem adeus simplesmente dizem “Vou comprar um cigarro” e nunca mais voltam.   Ir “comprar um cigarro” é como se ao invés de atravessar um rio – com suas dificuldades e conquistas, a pessoa simplesmente o conseguisse saltar, sem que ninguém o visse.  Ou como se houvesse uma pílula mágica que suprimisse a angustia de dizer Adeus. O resultado seria o mesmo, o término da relação, mas sem a coragem e, depois a liberdade, de dizer Adeus àquela relação que não lhe servia mais.

Não é fácil abrir o guarda-roupa e dizer adeus às roupas e utensílios que não servem mais, admitir as que foram compradas erradas e se perdoar, admitir que algumas peças já não tem sentido e se libertar.  Não é fácil dizer Adeus à um trabalho que trouxe frutos, sabedoria, conquistas e reconhecimento, mas que hoje já não toca mais o coração.   Dizer Adeus a hábitos, a condicionamentos e atitudes.   Dizer Adeus a pessoas.

Adeus, etimologicamente, é o mesmo que “A Deus”, que é o encurtamento de “A Deus vos recomendo”[1].  Ou seja para dizer Adeus, temos que entregar.  E para entregar temos que aceitar que não temos mais o controle, o domínio, o acesso livre e imediato sobre àquilo que estamos entregando. Que, talvez, perdemos. E como fazer isso em um mundo aonde desde pequeno aprendemos a conquistar e sermos valorizados por isso?

Compreender que o Adeus, automaticamente, gera um novo espaço, uma evolução no caminho da vida, é andar por um caminho desconhecido, misterioso, pelo menos para nós ocidentais. Talvez, ai, more o medo e a ansiedade de dizer Adeus.



[1] Fonte- Site Consultório Etimológico

segunda-feira, 15 de junho de 2015

caminhos

Certo dia, andando pelas ruas de Veneza, deparei-me com duas pessoas na porta de uma Igreja. Um senhor e uma senhora, aparentemente da mesma idade. Ambos fazendo o mesmo esforço: cada qual, à sua maneira, se expunha tentando chamar a atenção daqueles que passeavam pelas ruas, para ganhar umas moedas. Provavelmente aquele era o trabalho de ambos.

Todavia, havia uma diferença substancial entre os dois.

O senhor chamava a atenção pelo o que tinha de mais bonito e encantador. A voz e a desenvoltura para cantar, talvez nata ou desenvolvida ao longo da vida. Seu timbre de tenor, cantando “Ave Maria” na frente da Igreja sensibilizava os corações daqueles que por ali passavam que, em retribuição, lhe jogavam moedas, o que certamente garantiu seu jantar naquele dia. 

Já a senhora chamava a atenção pelo o que de mais sofrido ela tinha dentro de si. Com postura de fragilidade e sofrimento despertava o sentimento de compaixão e culpa em todos aqueles que passavam pela Igreja que, em retribuição, lhe jogavam moedas, o que também certamente garantiu o seu jantar naquele dia. 

Acredito que tanto o senhor, como a senhora, devam ter dentro de si repertórios de encantos e sofrimentos, força e fraqueza, beleza e feiura, amores e dores. E cada um deles optou por um caminho diverso para ganhar as moedas de suas vidas.  

Nós, também, temos todos esses repertórios e somos os responsáveis pelos caminhos que escolhemos para ganhar as nossas moedas, em todos os campos da nossa vida. Sejam as moedas financeiras, as do amor, as dos laços de amizade. Temos, a todo instante, a possibilidade e o livre arbítrio de decidirmos se queremos mostrar o nosso encantamento para ganhar as nossas moedas daqueles que passam pelas nossas vidas ou, ao contrário, esperar que os outros por dó, compaixão ou pena nos ajude.

Provavelmente os dois ganharam a mesma quantidade de moeda naquela tarde. Cada qual pelo seu caminho.    E eu, naquele instante, parei: olhei o mar, o céu, a mim e agradeci a oportunidade do aprendizado.