Dizer adeus.
É difícil dizer adeus.
Apegamo-nos às coisas, aos sentimentos, aos sentidos, às pessoas, aos
hábitos e condicionamentos, às relações e às emoções que todas essas coisas despertam
em nós.
Consigo entender melhor, hoje, aqueles que ao invés de dizerem
adeus simplesmente dizem “Vou comprar um cigarro” e nunca mais voltam. Ir “comprar um cigarro” é como se ao invés
de atravessar um rio – com suas dificuldades e conquistas, a pessoa
simplesmente o conseguisse saltar, sem que ninguém o visse. Ou como se houvesse uma pílula mágica que
suprimisse a angustia de dizer Adeus. O resultado seria o mesmo, o término da
relação, mas sem a coragem e, depois a liberdade, de dizer Adeus àquela relação
que não lhe servia mais.
Não é fácil abrir o guarda-roupa e dizer adeus às roupas e
utensílios que não servem mais, admitir as que foram compradas erradas e se perdoar,
admitir que algumas peças já não tem sentido e se libertar. Não é fácil dizer Adeus à um trabalho que
trouxe frutos, sabedoria, conquistas e reconhecimento, mas que hoje já não toca
mais o coração. Dizer Adeus a hábitos,
a condicionamentos e atitudes. Dizer
Adeus a pessoas.
Adeus, etimologicamente, é o mesmo que “A Deus”, que é o
encurtamento de “A Deus vos recomendo”[1]. Ou seja para dizer Adeus, temos que entregar. E para entregar temos que aceitar que não
temos mais o controle, o domínio, o acesso livre e imediato sobre àquilo que
estamos entregando. Que, talvez, perdemos. E como fazer isso em um mundo aonde
desde pequeno aprendemos a conquistar e sermos valorizados por isso?
Compreender que o Adeus, automaticamente, gera um novo
espaço, uma evolução no caminho da vida, é andar por um caminho desconhecido,
misterioso, pelo menos para nós ocidentais. Talvez, ai, more o medo e a
ansiedade de dizer Adeus.
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